domingo, 11 de setembro de 2011

Modos de Vida

Hoje de manhã (dada a hora, ontem para os mais escrupulosos), lá fui tomar a minha bica matinal à pastelaria do largo onde habito. Cliente que sou da casa há anos, lá fui recebido com um sorriso e um enérgico bom dia de quem trabalhava já desde as 6h da manhã. Esbocei um meio-sorriso e grunhi um bom-dia que não enganava ninguém. Eram 11h da manhã e acabava de acordar. Uma das moças do café, que me servira no dia anterior, indagou com piedade se sempre tinha finalmente dormido. É que sabia a moça, por uma outra casual conversa entre um chávena cheia e uma chávena vazia no dia anterior, que eu havia feito uma directa para estudar. Lá lhe confidenciei que tinha despachado tudo e que na última noite me desforra a bom desforrar e dormira 12h. Não sei bem como, entre uma lamuria e o tempo, foi a conversa parar à vida de funcionário público. Fez-se a devida ressalva que não se falava dos profissionais liberais ou dos homens do lixo, era mesmo daquele funcionário, que tem um emprego e recebe um vencimentozinho.

Dizia-me a moça que desses conhecia muitos que iam lá ao café todos os dias. (Vivo bem no coração de Lisboa). Que sabia, por conversas que não podia deixar de ouvir,que picavam o ponto lá no departamento ou repartição ou o que fosse e iam ali para o café cavaquear animadamente das 9h às 9h30. Que lá voltavam para almoçar e se quedavam habitualmente 2 horas no repasto. E sabia que despegavam do emprego cedo, que lá por essas 4h30 passam a levantar encomendas para levarem para casa. "Têm uma rica vida, é o que é". No meu último golo de café dizia-me ela: "Sabe menino, a mim o que me custa é estar aqui das 6h às 17h, receber uma miséria da qual me tiram quase metade para pagar ordenados a essa gente e ainda, vendo o que vejo, ter de os ouvir queixarem-se-me de que andam sempre tão cansados...". Soubessem eles o que é trabalhar, remato eu com um encolher de ombros que é a personificação do fado luso.


Suspiro eu, suspiro ela. Então até amanhã. Até amanhã menino.



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