quarta-feira, 25 de abril de 2007

Trova ao vento que 'ainda' passa

Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.
(...)
Pergunto à gente que passa
por que vai de olhos no chão.
Silêncio -- é tudo o que tem
quem vive na servidão.
(...)
Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.

Mesmo na noite mais triste
em tempo de sevidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não.
Manuel Alegre


O importante não é comemorar ou lembrar; o importante é não esquecer!

Porque o tempo que passa, não é só aquele que já passou, é aquele em que vivemos e em que presenciamos outras tantas nefandas atrocidades...

terça-feira, 24 de abril de 2007

Sininho

Aproxima-se de mim com aquela cara de caso tão sua característica e arrasta-me por um braço para um canto.
- "Queria pedir-lhe para ficar cá à tarde..."
- "Boa!! Acho que fazes muito bem!"
- "Mas tenho vergonha!"
- "Oh sininho! Por favor!"
- "A arco-íris disse que não se importava de lhe pedir!"
- "Um bocado «à cachopo», mas melhor do que nada!"
- "Mas queria ser eu a dizer-lhe!"
- "Então escreve um bilhetinho numa aula..."
...
A manhã passa-se nisto...Qual a melhor forma de lhe dizer? Escrevo um bilhete? A dizer o quê?
...´
1h00_Matemática:
- "Já falas-te com ele?"
- "Não lhe vou dizer nada..."

Bom demais para ser verdade?

Onde estão estão os teus pozinhos mágicos, Sininho?
E a atitude de fada impetuosa, Sininho?
E a wonderland, Sininho?


"Begin at the beginning and go on till you come to the end: then stop. "

Lewis Carrol, Alice's Adventures in Wonderland. Said by the King to the White Rabbit

domingo, 22 de abril de 2007

Omnipotência paradoxal...

Este é, de facto, um paradoxo muito interessante que li no livro A Fórmula de Deus. Sobre Deus, dizemos que é omnipotente.

Se Deus é omnipotente consegue fazer tudo.
Até criar uma rocha tão pesada que nem ele a possa levantar.
Contudo, se ele não consegue levantar essa rocha não pode ser omnipotente!

A mensagem

Soou uma gargalhada a meu lado. Não era alegre, mas sim forçada. Arrancada com esforço com o fim de demonstrar desafectação, despreendimento. Mas como qualquer gargalhada contrafeita, era abafada, falsa, sem graça.

Aproximou-se de mim, com aquele ar falsamente despreocupado que eu aprendera a reconhecer. Passou-me o telemovel para as mãos dizendo com afectada desafectação: "Lê isso".

Li. Fiquei parvo. Não há outra expressão. No meio da estupefacção surgiu a esperança pelo tão mal disfarçado desinteresse."Porque não respondes?"

Olhou-me como se olham os doentes mentais: com incompreensão quase piedosa. Mas lá respondeu com impaciência na voz: "Para quê?". Devolvi-lhe o telemóvel, encolhi os ombros. Aquela era uma batalha que eu já perdera muitas vezes...

Á conversa sobre essa mensagem , Sininho, apenas tenho a acrescentar uma outra Mensagem:

"Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quere passar além do Bojador
Tem que passar além da dor."

sábado, 21 de abril de 2007

Uma viagem de comboio...

É incrível o que se consegue fazer durante uma única viagem de comboio...

Entramos com aquele brilho no olhar. Vinhamos felizes! Todavia, devido ao cansaço, atiramo-nos mais do que nos sentamos nos bancos, calhando-nos por companhia um senhor de meia-idade. Com o espírito e descaramento que tão bem nos conhecem, montamos um autentico piquenique no meio da carruagem onde insólitos manjares se revelaram: queijos frescos oferecidos no centro comercial, Golden Grahams e maçãs oferecidos na FIL; não se admirem: afinal, vida de estudante não é fácil! Escusado será dizer que tal "refeição" foi pautada pelo riso, pelo divertimento e pelos olhares desconfiados dos restantes passageiros. O nosso companheiro de viagem, contudo, parecia achar-nos graça e olhava-nos como se pensasse nostalgicamente na sua própria juventude...

Entabulamos conversa com ele a propósito de um livro das obras completas de Oscar Wild em inglês recém-adquirido na Bertrand. Perguntou se podia dar uma vista de olhos e comentou a estranheza que sentia ao ver pessoas da nossa idade interessarem-se por tais obras, ou melhor, pela literatura de todo...Pensamento legítimo e recorrente; infelizmente...

Após breve discussão sobre a profundidade de um dos poemas do livro que dissertava sobre o tempo, a letargia apoderou-se de nós devido à fadiga. E durante algum tempo a viagem decorreu assim, silenciosamente marcada pelas paisagens das infindáveis lezírias ribatejanas.

A propósito de uma qualquer piada despertamos e as conversas e os risos subiram de tom. Falou-se de tudo: de trivialidades, das terras que deixavamos para trás, das experiências que levavamos conosco; sempre com participação activa do nosso companheiro. Pelo meio houve quem fosse tentar vender queijo fresco aos restantes passageiros! Tentativa de negócio que não muito frutífera como devem imaginar, mas que nos proporcionou umas belas gargalhadas...

O nosso companheiro deixou-nos no Entroncamento, assim como a grande maioria dos passageiros. Com a carruagem quase deserta, continuamos a viagem, mesmo não tendo pago esse troço. Desinibidos com a escassez de passageiros, demos largas à imaginação e rapidamente montamos um estúdio de fotografia. A risota foi constante até ao destino e as fotos digas de rivalizarem com as famosas fotos artísticas da Ana...

Desembarcamos com os pés pesados, mas ligeiros de espírito.

Digam o que disserem, o comboio não é um mero meio de transporte. É uma forma excelente de conviver que tem a vantagem adicional de nos levar onde queremos!

Paradoxo inequívoco da alma corpórea

Numa reflexão irreflectida penso em ti…
Pura partida irracional da minha razão.
Acordado, durmo e elevo-me em sonhos nunca sonhados
Enquanto mergulho em recordações do imemorial.

Sinto-me cheio de vazio…
Recordo o que nunca aconteceu.
Um passado inexistente,
Um ex-futuro…

A tua frieza desperta o meu calor.
E, numa inconsciência consciente, vejo o invisível
E a escuridão do que não vejo ilumina-me a cegueira.

A realidade fictícia em que vivo dá-me uma liberdade posta a ferros
Que amo, odiando apaixonadamente!
Sinto o que penso sem pensar o que sinto

Abraço o abstracto e o complexamente simples.
Lembro-me de te esquecer até à finitude infinita dos tempos…
E parece-me que morro para a vida, quando na verdade vivo para a morte.


Hugo Pereira
20/03/2007

Dissonâncias paradoxais

Nada parece ser definitivo nesta vida...

Hoje acho isto, amanhã parece-me o contrário. Hoje gosto, amanhã odeio...isto quando não gosto odiando! Sinto e não sinto ao mesmo tempo. É incrível como consigo discorrer duas opiniões ou juízos perfeitamente antagónicos em simultâneo. Quais duas vozes dentro de mim...

Sentem o mesmo? Não? Temos pena, porque eu também não consigo explicar em condições.

E no meio de todas estas contradições, ambiguidades, incertezas, antinomias e paradoxos acabo por flutuar através da existência numa atitude confortável e sem levantar grandes ondas, mas fazendo questão de deixar marcadas as minhas opiniões e convicções, de também eu compor um pouco desta obra orquestral em que todos participamos...

E contudo, também a vida acaba por ser um grande paradoxo: a vida é, no fim de contas, uma caminhada para a morte e a morte (pelo menos para quem acredita) parece ser uma transição para a vida!