terça-feira, 23 de outubro de 2007

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Apoderou-se de mim uma enorme vontade de escrever... Não sei o que faço... Limito-me a saborear o prazer de premir as teclas do teclado enquanto vejo as letras materializarem-se à minha frente construindo um modelo da estupidez do meu pensamento presente.

(Foco-me na estupidez do que escrevo, qual naufrágo desesperado agarrado estupidamente a um pequeno galho, numa tentativa de não me afundar na estupidez que me envolve. Se me afogar em alguma, ao menos é nesta, que é minha.)

Não sei que escreva; não tenho nada que escrever. Pareço louco, mas tenho direito a sê-lo. Mais não seja pela estupidez que me envolve. Ou por aquela em que me afogo, que já não sei se é a minha ou a dos outros. É tudo a mesma coisa e ao mesmo tempo é tão diferente.

Não disse nada. Mas se nada tinha que dizer, tudo está bem. Apenas queria escrever. Já escrevi. Vou embora.

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

...de manhã...


Não, não sou uma aberração... Como a esmagadora maioria das pessoas normais, evito qualquer tipo de actividade cerebral pouco depois de acordar. Mas toda a regra tem excepção. E durante a sonolenta viagem que fazia a caminho da escola, lá semi-abri os olhos para que eles se enchessem duma inesperada beleza conseguida à custa do nevoeiro matinal, que mantinha o castelo, qual ilha, suspenso no alto sobre um mar de branco etéreo. E aquele sol tímido da manhã emprestava brilho ao conjunto e todas as gotas de água, suspensas no ar como que por magia, resplandeciam. E no horizonte distante, em contraste brutal e abrupto, reinavam as pacíficas trevas da noite onde o burburinho luminoso do despertar não chegara ainda. Voltei a fechar os olhos pelos escassos minutos que me restavam de viagem. Assim embalado pelo suave balanço do carro e envolvido pela aragem amena da sofagem, também algo dentro de mim exclamou, ao som delicioso do saxofone e da querida voz velha do roufenho Armstrong: "What a wonderful world!"